"O futsal no interior está crescendo; o feminino, engatinhando"

quarta-feira, 29 de julho de 2009

ENTREVISTA COM MURILO NOGUEIRA DE ALMEIDA,
TÉCNICO DO S.M.E. RIBEIRÃO PRETO

POR FLÁVIO CRUZ


Mais uma vez, o Mulheres do Futsal foi a campo, ou melhor, a quadra apurar a situação dos clubes do Campeonato Paulista. Fizemos uma entrevista especial com Murilo Nogueira, treinador do time de Ribeirão Preto, para entendermos melhor como um time do interior vê uma competição em que grande parte dos adversários estão a mais de 300km de distância.

A S.M.E (Secretaria Municipal de Esportes) Ribeirão Preto é mais um exemplo das dificuldades pelas quais o futsal feminino passa fora da capital. Ao fim da competição, o time terá viajado oito vezes para a Grande São Paulo e gastado quase dez mil reais apenas com as despesas dessas viagens. Além disso, a falta de patrocinadores assombra os times "caipiras". Como resultado, vemos transferências dos talentos do interior para times da capital, com a número 10 de Ribeirão Preto, Drica, que está de malas prontas para jogar no Jaguaré/Palmeiras/Osasco, líder do campeonato.




Mulheres do Futsal: Como é ser de um clube do interior em um campeonato em que a maioria dos times é da grande São Paulo?

Murilo Nogueira: É difícil. Se você puser na ponta do lápis, vai ver que somos os que têm mais gastos. Por ter poucos times aqui do interior e a maioria ser de São Paulo, viajamos mais, gastamos mais e temos menos retorno. Eu acho que o pessoal não olha muito para o futsal do interior e o polo mesmo, o forte, é a capital. Lá tem mais investidores. O futsal no interior está crescendo; o feminino, engatinhando. É um desafio legal. Vamos jogar na capital para mostrar que, no interior, também tem meninas com condições de jogar de igual para igual.

M.F.: De onde vêm os recursos para as viagens e treinos do time?

M.N.: Se for ver na tabela, a maioria dos times da capital tem apoio de universidades. Nós não temos essa possibilidade fora da capital. Somos bancados exclusivamente pela prefeitura. Nosso nome é Secretaria Municipal de Esportes Ribeirão Preto.

M.F.: Há outras dificuldades além da distância?

M.N.: Ser do interior também pesa na hora de trazer atletas. Tem atleta que não vem por ser muito longe e querer ficar mais perto de casa. Mas isso é atleta que não quer ter oportunidade de crescer.

M.F.: De onde vêm as atletas do projeto?

M.N.: A maioria das atletas são da base sub-20 que disputa os Jogos Regionais. Nós temos escolinhas nos bairros de Ribeirão Preto e os destaques são trazidos para cá. Na verdade, nós somos um time sub-20 que disputa a categoria principal. Mas a gente contrata jogadoras também, temos alojamento, alimentação e ajuda de custo.

M.F.: Por que o futsal no interior é esquecido?

M.N.: Eu acho que não temos a tradição de ter o futsal no interior, principalmente em Ribeirão Preto. Muito menos no Feminino, porque há um pouco de preconceito e de desconfiança por parte de patrocinadores. Na capital, o esporte é bem forte, então qualquer time tem uma estrutura financeira ou algum projeto maior que o nosso. Mas os times, dentro de quadra, não são melhores que os nossos.


A segunda parte da entrevista será publicada amanhã

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