“Não nos considero como um clube, mas como um projeto”

terça-feira, 30 de junho de 2009

ENTREVISTA COM ISABEL MOURA, TÉCNICA DO SEA GRS ARUJÁ

POR IGOR RESENDE


Só Entre Amigos Grupo de Recuperação Social Arujá. O nome completo do SEA GRS Arujá revela muito sobre a realidade da equipe que figura entre as últimas colocadas do campeonato estadual de futsal feminino. "Não nos considero como um clube, mas como um projeto", explica a treinadora Isabel Moura. A iniciativa, entretanto, vem esbarrando na falta de apóio governamental e atrapalhando o desempenho da equipe na competição.



O "Mulheres do Futsal" foi a um treinamento do SEA na quadra da E.E. João Crispiniano Soares, em Guarulhos, atrás da treinadora Isabel para esclarecer o projeto da equipe e expor as dificuldades pelas quais ele vem passando. Para surpresa do repórter, ao fim da atividade aconteceu até um amistoso improvisado contra meninos que queriam usar a quadra. A reportagem pôde acompanhar o sufoco passado pelos marmanjos, que só conseguiram a vitória por 10x9 devido ao cansaço das atletas. E mais que isso, acabou descobrindo uma verdadeira professora, dentro e fora de quadra.


Confira a primeira parte da entrevista exclusiva abaixo.


Mulheres do Futsal – Em princípio nos incentivamos a procurá-la para uma entrevista após descobrirmos a dificuldade que vocês estavam encontrando para treinar. Fale um pouco sobre isso. Vem acontecendo desde o início do Campeonato Estadual?

Isabel Moura – Sim. Nós treinávamos na quadra do União Guarulhense, mas tivemos um problema com a licitação da cidade. Outra equipe [O Estrela de Guarulhos] ganhou a licitação do lugar e começou a treinar lá, tirando o nosso espaço. Começamos a treinar, então, no Bosque Maia focando mais a parte física. O grande problema é que lá, temos que treinar na areia, que é muito diferente da quadra. Hoje é a primeira vez que estamos treinando aqui nessa escola, onde uma das nossas jogadoras estudava. Estamos cumprindo um compromisso firmado no início do ano, quando não contávamos com dificuldade de quadras, porque até então tínhamos um lugar fixo de treinamento. Infelizmente os problemas surgiram, mas seguimos com o projeto.

Mulheres do Futsal - Como o time está respondendo em quadra a essas dificuldades? Vocês sofreram uma goleada para o Jaguaré por 31x0, como foi?

Isabel Moura – Há uma certa explicação para esse placar. A tabela do campeonato não marcava nenhum jogo pra nós no dia 12 de junho, então assumimos outro compromisso. Mas o supervisor da equipe do Jaguaré ligou na Federação avisando que, no dia marcado, a quadra da cidade seria usada. Ele queria antecipar o jogo, mas como eu trabalho em uma escola da prefeitura, não poderíamos jogar. Foi marcado então pro dia 12 e nós não tínhamos muitas jogadoras. O site divulgou o resultado como a maior goleada do campeonato, mas poucos sabem o porquê.

M. F. – E como vocês reagiram a essa divulgação? Como tentaram explicar o resultado?

I. M. – Nós mandamos uma justificativa pra ser colocada no site da Federação, mas em princípio ela não foi posta. Disse para a responsável: 'Poxa, eu sei que a minha equipe é pequena e que o resultado é bom pro Jaguaré, mas as pessoas que nos acompanham merecem uma explicação'. Ela refez a matéria, dizendo que fomos em 7 pessoas, sendo 6 delas iniciantes.

M. F. – É interessante que logo no dia seguinte a goleada, vocês conseguiram uma vitória. Qual foi o sabor dessa recuperação?

I. M. – Ganhamos da equipe do Estrela de Guarulhos, que foi a vencedora da licitação aqui da cidade e por isso o resultado foi ainda mais interessante. Para a gente, foi uma vitória realmente considerável por todas as dificuldades que enfrentamos. O Estrela possui uma boa estrutura e hoje eu ainda não considero o SEA como um clube, mas como um projeto. Não temos patrocínio nem ajuda de ninguém. Fazemos rifas e alguns eventos para arrecadar dinheiro. Para participar desse campeonato, tudo sai do nosso bolso.

M. F. – Vocês possuem algum compromisso com alguma das cidades, Guarulhos ou Arujá?

I. M. – Na verdade nosso compromisso maior é com o projeto. Muitas pessoas ainda pensam 'vocês colocam o nome como SEA Guarulhos Arujá?', mas na verdade o GRS não tem nada a ver com Guarulhos, cuja abreviação é GRU. GRS significa Grupo de Recuperação Social que é o projeto que tentamos implementar. Disputamos campeonatos nas duas cidades. O pessoal aqui de Guarulhos nos respeita bastante. Quando treinamos no Bosque Maia, os meninos que jogam lá vão para outro local e nos deixam treinar.

M. F. – Como é a relação com a prefeitura, não há mesmo nenhum tipo de auxílio?

I. M. – Não. Na verdade, montamos esse projeto em 2006, com uma equipe sub-17. Nós oferecemos o projeto para a prefeitura, sem pedir dinheiro, apenas queríamos um uniforme, mas nos foi negado. Queríamos apenas uma ajuda com transporte, que é o que mais pesa. Fomos jogar em Ribeirão Preto e tiramos 600 reais do bolso. As equipes pequenas sofrem muito com isso. O dinheiro da arbitragem pode até ser um valor considerável, mas conseguimos arcar com ele. O grande problema é a locomoção.


A segunda parte da entrevista será publicada amanhã

2 comentários:

Julia Carvalho disse...

Legal a iniciativa de mostrar as dificuldades pelas quais o esporte brasileiro passa. Pior, pelas quais o esporte feminino brasileiro passa.

Parabéns pelo blog, está ótimo!

Claudia M. Justiniano disse...

Importância que nem todos notam (complementando meu comentário anterior). A prefeitura podia apoiar, por exemplo...